Correria

Sábado passado foi dia de evento. Colação de grau seguida de baile. Para isso, as 13h estamos na empresa, carregando os equipamentos na nossa Kombi guerreira. Claro, o Cachopa reclamando que já devíamos ter separado as coisas na sexta.

A Kombi vai socada até o teto com equipamentos de palco, becas, capelos, som... e seres humanos. Fazemos caber 8 pessoas junto com os equipamentos. É altamente irregular. Quero ver o dia que essa porra vai virar, o lê, o lê, o lá. O resto da cambada vai socada na "viatura", um Uno Mille véio que vai se peidando todo até o evento.

No meio do caminho, eu olho pelo espelho e vejo um monte de folhas voando da Kombi. Dou um berro, a gente pára e vai ver. Algum espertão colocou as cópias do roteiro de hoje amarrados em cima da Kombi e achou que não ia acontecer nada. Voltamos todos juntos pra empresa pra tentar imprimir mais.

No meio do caminho encontramos o pessoal trocando o pneu do Uno. Nem paramos pra dar uma mão. Chegando na empresa, me falha a impressora. O vizinho ajudou (isso que ele detesta a gente, depois conto mais).

Pegamos um "atalho"... que levou o dobro do tempo pra chegar no local, por causa de uma obra da prefeitura. Mas chegamos a tempo. A tempo de levar uma bronca dos formandos que já estavam esperando faz tempo pra se arrumarem.

Não dá pra se concentrar

Meu trabalho quase sempre exige uma alta concentração na frente do computador. As vezes é uma edição de vídeo aonde tenho que prestar muita atenção no audio, as vezes é montando uma tabela de orçamento no Excel. Mas a cada 5 minutos vem alguém quebrar minha concentração.

Lá estava eu na frente do micro, altamente concentrado em uma edição, quando chega o Gefferson (do vídeo) para me perguntar como se faz um menu personalizado de DVD. Meu Deus, tem todo um processo de aprendizagem. Essa pergunta é como alguém chegar e perguntar "tem como me ensinar 3D Max rapidinho?". Enfim, tentei ensinar bem por cima, esperando que ele busque tutoriais na Internet.

Aí eu coloco meus fones, levo uns 5 minutos pra reestabelecer o rítimo e lá vem a Melinda (dona) pedir pra preencher uns formulários do contador, referente a um erro que o imbecil sempre faz todo mês com meu salário.

Mais 5 minutos pra voltar ao rítimo e chega o Adir (vendas) pra eu dar uma mão pra ele em uma tabela de Excel. Na sala dele, ele não consegue explicar o que precisa e nós quase brigamos.

Volto pra minha sala com um pingo de esperança, coloco meus fones e sinto um cheiro inconfundível da deliciosa Priscila (recepcionista). Claro que ela vem pra bater papo, colocar as fofocas em dia. Aliás, ela é quem mais vê o movimento do pessoal de um lado pra outro fazendo muitas coisas, menos produzir.

Depois de muito tempo eu coloco o fone pra tentar trabalhar, olho pro relógio e faltam 15 minutos pra fechar a empresa. Aí eu desisto. Quem sabe segunda será mais tranqüilo.

Ligação de uma hora

Hoje, Augusto (um dos donos), veio reclamar que estamos gastando muito telefone. Tem ligações absurdas de uma hora de duração para celulares. O que acontece é que pra falar isso, ele vai de sala em sala, faz o maior escândalo, mostra como a empresa está falindo por nossa culpa, que ele é quem paga as contas, que isso é abuso, etc, etc, etc.

Depois ele chama todo mundo pra mais uma reunião coletiva pra falar as mesmas coisas.

Fomos atrás para descobrir quem foi o imbecil que ligou pra celular, porque já foi avisado pra todo mundo que não é pra usar a linha fixa quando se liga pra celular. Depois de mobilizar a empresa inteira, buscar em registros de entradas e saídas e afins, descobrimos foi o Anderson (um dos estagiários), que estava de papinho com uma formanda.

Sinceramente? Espero que tenha conseguido comer ela. É nosso prêmio por ter que ficar ouvindo tanta bosta o dia inteiro.

Gerusa e Ulisses

Gerusa (a faxineira) e Ulisses (do jurídico) não se dão bem. Na verdade, o Ulisses é quem não gosta da Gerusa. Ela por sua vez tenta mudar o mal humor no Ulisses, mas só o deixa mais irritado.

Olha o papo dos dois:

Gerusa: "Seu Ulisses, bom dia! Tô aqui pra limpá tua sala, tirá todo esse pó de cima da tua mesa"
Ulisses: "Filha, você não pode voltar mais tarde, estou trabalhando agora"
Gerusa: "Se o senhor não parar de trabalhar um pouco, vai acabar ficando velho. E essa poeira toda é energia negativa"
Ulisses: "Energia negativa?!?! E filha, eu já sou velho, e não enxergo a poeira, então pra mim a sala está limpa"
Gerusa: "Não senhor, pode ir levantando, já vou ligar aqui o aspirador, você não vai aguentar o barulho e vai sair por força, e se não sair, vou começar a aspirar o pó do teu terno".

O Ulisses saiu da sala e foi pra cozinha ficar reclamando da faxineira desbocada.

A Turma das Gostosas

Hoje, o Wagner o Tarto e eu (Joca) fomos filmar e fotografar uma turma de Nutrição que eu ainda não conhecia. Meu Deus, só tem gostosa nessa sala. Eu nunca vi uma turma que só tem mulher maravilhosa. Não tem um único homem na turma, e todas as meninas, sem exceção, são beldades incríveis.

Não pode ser curso de nutriçao, deve ser curso de "ser gostosa". A partir de agora vou chamar elas de A Turma das Gostosas do Curso de Ser Gostosa.

Wagner e Carlinha

A Carlinha, uma das meninas da venda, e o Wagner, o fotógrafo abusado estão cada vez mais de gracinha um com outro. Eu chego na cozinha da empresa e lá estão os dois jogando espuma um no outro. Ainda não tenho certeza se eles têm alguma coisa, mas é um comportamento muito amiguinho demais. Ah, a Carlinha diz ter um namorado. Mas sei lá né, vai que é só pra ficar posando de santinha.

Mas eu não falo nada! Já que a regra da casa é não poder sair com funcinários.

Dúvida

Ficou dito na última reunião que não podemos sair nem com funcionárias, nem com as terceirizadas, nem com as clientes.

E aí ficou uma dúvida no ar: Eu vou comer quem?

Super incentivo

Hoje o Paulo (um dos donos) veio falar que temos que trabalhar unidos, pois somos uma grande família. Quanto mais produzirmos, mais vamos crecer. Disse que todo mundo aqui quer maiores salários e ele também quer dar muito dinheiro pra gente, mas só vai conseguir isso se a gente fizer a empresa crescer.

Agora eu pergunto, aumentar o salário de quem, cara-pálida? O teu?

Nunca vi na minha vida nenhum chefe que saiu dando aumentos por aí quando a empresa cresceu. Esse papo de "família" é muito velho, ninguém mais cai nessa. Na hora da gente se fuder fazendo horário extra até o infinito somos uma grande família. Mas na hora de pedir aumento, a empresa sempre está falindo, ou passando por contenção de gastos.

Escudo mágico

Nosso motorista Cachopa tem uma relação de amor e ódio pela nossa Kombi, que é a viatura oficial da Eagle Eventos. Ele sempre elogia que ela é uma criação maravilhosa, que nunca falha, que com uma chave você arruma tudo nela. Mas quando dá algum problema, ele é o primeiro a ficar reclamando que o carro é uma porcaria que deveríamos trocar por um melhor.

Uma coisa fascinante... o Cachopa acha que o pisca-pisca da Kombi cria uma escudo protetor mágico, um campo de força, uma aura, que impede que qualquer coisa possa acontecer com o veículo. Ele pára em fila dupla, em cima da faixa de pedestres e simplesmente liga o pisca. Assim com esse escudo, ela não pode ser multada, e as pessoas desviam da Kombi sem reclamar.

Resultado da Reunião

Pra variar essa reunião não rendeu nada prático. Ficou definido que:

Não podemos comer as funcionárias, nem as clientes;
Temos que vestir o uniforme ridículo da empresa que parece aquelas calças de colégio;
Também não podemos comer as terceirizadas, como as recepcionistas de eventos;
Temos que evitar abrir e-mail com vírus, mesmo que seja um gatinho dando tchau;
Devemos parar de comentar a vida pessoal dos chefes;
A empresa está passando por uma crise e temos que "ajudar" porque assim todo mundo cresce;

Sugeriram uma vez que eu fizesse um "bingo de reunião" pra passar o tempo nessa coisa. Você escreve em um papel várias palavras como "organização", "desempenho", "melhoria", "crecimento". Aí você vai riscando elas a medida que as pessoas vão falando. Se você tiver sorte consegue eliminar todas as palavras até o final da reunião.

Mais alguns loucos

Cachopa, é nosso motorista louco. Ele é todo nervozinho, detesta os horários que tem que trabalhar, acha que a empresa sacaneia com ele e quase sempre sai cantando o pneu da empresa. Muito abusado ele, nem parece que precisa do emprego.

Bom, de fato, somos uma empresa de eventos, tem baile que termina as 5 da manhã, temos foto pra fazer domingo as 6 da manhã, tem dia que das 8h até as 23h temos que atender clientes. Os horários aqui são todos desregulados.

Tarto é o nosso coordenador, ele tenta organizar os eventos das turmas, e ele sim é o campeão de avacalhar com a gente, pois marca evento no mesmo horário que outros já marcados.

Gerusa é a faxineira desbocada.
Ulisses é um velhinho bem velhinho responsável pelo jurídico.
Camila é... eu não sei exatamente o que ela faz. Fica lá de um lado pra outro.

Ah, não vou mais descrever esse povo, com o tempo vou adicionando eles de acordo com o que vai acontecendo. Eu chamo obtuário nosso "Livro de Registro de Funcionário", pois essa empresa é campeã em circular pessoas.

Estão chamando pra uma reunião geral, eu adoro, pq todo mundo joga bosta no ventilador. Conto mais depois.

A Eagle Eventos

A Eagle Eventos é uma empresa que já está na ativa inacreditáveis 11 anos. Em teoria é especializada em fazer formaturas, mas volta e meia temos que fazer casamentos, show, vender de carros, costurar roupas, transportar mudanças, montar cenários, elétrica, lavar carros, etc. Temos cerca de 20 funcionários, ou melhor, personagens, pois cada um que entra, trás toda uma nova série de rolos mal resolvidos... e roupa suja, se lava na empresa!

Temos 3 donos: Paulo, Melinda e Augusto.

Melinda é irmã de Paulo, fundadores, e Augusto que colocou uns trocados na empresa faz uns 5 anos, pensa que tem 99% das ações. Os três vivem brigando na frente de todo mundo.
Segundo Paulo, tudo que acontece na empresa deve ser reportado a ele, e ele é o único que pode tomar decisões na empresa.

Segundo Melinda, tudo que acontece na empresa deve ser reportado a ela, e ela é o única que pode tomar decisões na empresa.

Segundo Augusto, tudo que acontece na empresa deve ser reportado a ele, e ele é o único que pode tomar decisões na empresa.

Isso funciona MUITO BEM no cérebro dos empregados, nem dá um nó na cabeça (humf!). É super saudável, pois nunca sabemos pra quem se reportar, e ao mesmo tempo não podemos tomar decisões sozinhos.

Priscila é nossa recepcionista gostosa cheirosa deliciosa... mas o que tem de gostosa tem de falta de vontade. Eu pedi que tirasse cópia de duas fotos, ela me volta com xerox delas. Acho que ela faz de propósito sabe, pra ninguém pedir nada pra ela. Foi assim com o café.

Emmerson é o piá dos micro daqui. O trabalho dele é tirar toda a pornografia, virus e trojans dos computadores da empresa. Aqui ninguém aguenta ficar sem abrir um e-mail suspeito com um gatinho imbecil dando tchau.

Ciro, Robertha, Adir e Carlinha são da equipe de vendas e fecham poucos contratos pra todo o apavoro que fazem a gente passar, fazendo a gente dar brindes e o escambau. Só chegam depois dizendo "ah, não deu aquela turma que investimos tanto tempo e dinheiro". Ah, eles fecham um monte desses cursos incríveis, como "Técnico em Estacinamento" com 5 formandos que não tem mais de R$ 200,00 pra gastar.

Gefferson, responsável pelo vídeo e responsável por belas cagadas, como trocar os clips das turmas e fazer a gente morrer de vergonha no dia.

Wagner, fotógrafo e diretor do dpto de foto, responsável por comer as formandas... ele também trabalha, mas está mais preocupado em comer as formandas mesmo. Cris, Eli, Valério e Anderson são os estagiários escravos da foto. Ficam bem na deles, mas volta e meia me aprontam, como a vez que os 4 apareceram bêbados pra trabalhar.

Tem mais gente, mas depois eu escrevo sobre o resto do povo.

Capítulo 0000001

Minha empresa é uma grande novela. Decidi montar esse blog depois que percebi que a empresa aonde trabalho é uma grande atração televisiva, recheada de personagens com suas inúmeras tramas.

Não consigo compreender como ela consegue se manter funcionando depois de tantos anos, tendo em vista que as pessoas gastam mais tempo com seus rolos pessoais, do que fazendo trabalho real.

Um roteirista não precisa criar mais nada novo para sua novela. Basta vir trabalhar conosco, praticamente todo dia ele consegue um capítulo para seu texto, apenas assistindo esse povo de um lado pra outro.

Aqui sou conhecido como Joca, trabalho atualmente no "departamento de apoio", já que não tenho a mínima idéia do que realmente faço. Com tempo vou apresentando pra vocês os malucos que trabalham aqui e vocês vão entendendo, ou desentendendo como a empresa funciona. Ah, e para não complicar a vida de ninguém, permitam-me mudar um pouco os nomes dos meus colegas de trabalho.

Boa diversão.